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TERAPIA DE UMBANDA, UMA PERSPECTIVA.

Inúmeros são os casos de patologias curadas através de processos espirituais, uma questão, no entanto deve receber atenção especial: a causa da doença Neste Ponto vale o convite a leitura da obra do doutor Lawrence Le Shan, O Câncer Como Ponto de Mutação (Summus Editorial). Se por um lado a doença não está relacionada a um câncer propriamente, o doente, na sua grande maioria coloca-a no mesmo patamar: “o meu problema é gigantesco”. Neste aspecto focar no temível ajuda a compreensão e até a mensuração da patologia psicossomática. O termo psicossomático significa acessar várias dimensões da pessoa humana: a saber, a psíquica, a social, a física e a espiritual. O foco deste trabalho volta-se para a dimensão espiritual ou espiritualidade. Por que muitas pessoas buscam ajuda para seus problemas de saúde nos centros espíritas? Há uma compreensão genérica no Brasil, conota-se centro espírita todo e qualquer templo Kardecista, de Umbanda, Candomblé ou qualquer religião de matriz africana, no entanto, já no seu germe existem diferenças e divergências conceituais, mas na essência o fim é o mesmo: a cura do corpo através do espírito. Espírito = energia Pessoa = potência Deus = energia vital Entidade espiritual = Potência de Deus que age Com esta analogia direcionarei o foco da cura espiritual para a “terapia” de Umbanda, não sem antes afirmar: “Se eu sou o causador da doença, em posso curá-la”. A medicina convencional ainda prescreve um tratamento meramente físico e fisiológico, cuidando não do doente, mas da doença desconectada da história de vida da pessoa, neste ponto, a religião assume um papel fundamental: o preenchimento desta lacuna vital do tratamento. Ressalta-se a grande importância do profissional médico imprescindível para o diagnóstico da doença. Fé e autoajuda são fatores fundamentais para que a cura aconteça. O papel do médium de umbanda no processo da cura remete-se a analogia: o médium é o fio condutor para que a energia vital se potencialize a fim de transmutar a chaga em saúde. Na Umbanda, o médium já borizado¹, ou equilibrado com seu Eledá², reúne todas as condições para a aplicação do processo de cura. A transmutação ao mesmo tempo em que é um processo que envolve o trinômio consulente-médium-entidade, é o campo de vibração específica do Orixá³ que potencializa a energia vital em cura, a saber, este Orixá é Obaluayê4. Na Umbanda, o Orixá dá o Seu Axé5, a Energia Vital se potencializa através do campo vibracional, neste caso Obaluayê emana vibrações como Potência de Deus que cura. Denomino este processo como Axé de cura ou processo direto de cura. Aqui o médium está num estado inconsciente, a comunicação com o assistido é análoga a uma ressonância magnética onde ocorre a sincronização das vibrações doença-cura. No segundo processo o qual denomino de Passe de cura ou processo de cura indireto, o médium agora, semiconsciente, através do guia espiritual da mesma linha de vibração do Orixá Obaluayê, trabalha os pontos descompensados de energia responsáveis pela doença, considerando a interatividade ali constituída com o consulente. Tanto no processo de cura direto como no indireto a afirmação de responsabilidade pela causa e pela cura tem eco. Há resposta porque houve iniciativa do “doente”. Abro um parêntese: Em todas as religiões há a necessidade da intermediação humana nas curas, bênçãos, sacrifícios, oferendas, etc. É um fator importante quando nos deparamos com um “doente” sem fé. Esse indivíduo mesmo cético pode alcançar a cura através de um amigo, parente ou grupo, pois, o agente curador, o médium que troca energia, juntamente com as pessoas que estão à volta do doente confirma a coexistência da fé, por meio de uma autoconfiança e uma forte concentração de energia através da egrégora6. Há processos de cura que se faz necessário um Bori voltado exclusivamente para a saúde, não sendo necessário que o indivíduo doente esteja em processo de iniciação espiritual. No Bori acontece ritualmente a Comunhão, a ressonância com Deus. Deus se faz presente na economia, o homem abre-se a Deus e é automaticamente inserido na relação trinitária, o Eledá, existente e revelado. Assim Deus inabita o homem fazendo-o Ser-Humano. Somente na participação do humano no Divino, o homem descobre os parâmetros verdadeiros para viver uma vida sã. A partir da experiência de cura, a pessoa começa a refletir o processo, questionar-se, e então deparar-se com explicações. Já com a vida saudável, muda conceitos e valores que direta ou indiretamente lhe proporcionaram a doença. Quando uma pessoa se submete a uma cirurgia convencional ou espiritual, retira um tumor e fica bem fisicamente, mas não ocorre uma transformação íntima a partir dessa experiência, outros tumores ou doenças surgirão. Isso se dá porque foi tirado o efeito e não a causa da moléstia. A doença existe associada à história do indivíduo, ao seu passado, e tem como propósito ajudá-lo a enxergar coisas até então invisíveis aos seus olhos. Ela vem para chamar a atenção sobre o seu modo de vida. No seio da Umbanda, os guias espirituais mostram o momento em que a pessoa tem que fazer a sua parte, a sua reforma íntima para que então ela comece a tomar conta da própria vida e a se conduzir dentro de outra perspectiva. Esta é a verdadeira Umbanda na concepção de cura, aliás, sob o aspecto tratado aqui, a Umbanda faz jus a sua própria nomenclatura. Porém ainda há a questão do preconceito. Médicos e psicólogos que frequentam ou trabalham em centros espíritas, terreiros e outros espaços Sagrados, em seus consultórios ocultam a sua fé, talvez pelo medo do preconceito ou problemas com os conselhos regionais, em contrapartida o paciente não encontra eco no seu médico ou psicólogo. Ressalto ainda que segundo Jung, uma pessoa doente só poderá ser ajudada plenamente se estiver sob o cuidado de uma junta formada por um dirigente espiritual, um médico e, logicamente, um terapeuta. Fundamentação suficiente para que estes profissionais repensem o preconceito e comecem a tratar o indivíduo doente em todas as suas dimensões. A ajuda espiritual está presente em todas as religiões. O que existe é um alto nível de desconhecimento das doutrinas e práticas religiosas, faltam pedagogia ecumênica para desmontar preconceitos. Um curso de Teologia ou ciência da religião apenas desperta o interesse para os mais variados seguimentos, não posso falar da religião X, pois não a conheço na prática, assim, melhor do que colonizar é inculturar.

Silnei Aparecido Farkas é teólogo formado pela Pontifícia Faculdade de Teologia NSA Assunção de São Paulo, médium na T.U.Pai Oxalá, Caboclo Lírio Branco e Pai Joaquim de Angola e cursa regularmente a formação sacerdotal ministrada na FUCESP.

1.Borizado: indivíduo que participou de um ritual das religiões tradicionais africanas e outras, que harmoniza e diminui a ansiedade, o medo, a dor e a tristeza trazendo a esperança, alegria e a harmonia. Desta forma, o Bori é uma das oferendas mais importantes que visa o bem-estar individual. O Ritual de Bori é muito sério, complexo e profundo. Ori (Yoruba) significa, literalmente, cabeça e é, misticamente, o primeiro Orixá a ser cultuado. Seu objetivo é o de alimentar o Ori Eledá, seja qual for o sexo, raça, profissão, idade, nível social da pessoa.

2.Eledá = é um dos três elementos constituintes da alma humana, conhecido como o “Guardião Ancestral” segundo a tradição iorubá, reverenciado no ritual do Bori.

3 Orixás: são divindades ou semideuses criados pelo deus supremo Olorun. Os orixás são guardiões dos elementos da natureza e representam todos os seus domínios no aye (a realidade física em que os humanos estão inseridos segundo a tradição iorubá). Também existem orixás intermediários entre os homens e o panteão africano que não são considerados deuses, são considerados “ancestrais divinizados após à morte”.

4 Obaluayê: é o senhor das doenças podendo curar uma pessoa de uma doença. Na gira de caboclos pode ser chamado de “caboclo do fogo” e quando entra nos terreiros de umbanda sua cabeça sempre tem que ser coberta, pois, Obaluayê tinha muitas feridas e cobria seu rosto com palha para que ninguém pudesse ver as feridas.

5 Axé: Axé (Àse, em yoruba, “energia”, “poder”, “força”). No contexto das religiões de matriz africana axé representa um poder de força sobrenatural.

6 Egrégora: ou egrégoro para outros, (do grego egrêgorein, Velar, vigiar), é como se denomina a entidade criada a partir do coletivo pertencente a uma assembleia, ou seja, é um campo de energia criado no Plano Astral a partir da energia emitida por um grupo de pessoas através dos seus padrões mentais e emocionais.

FUCESP – Federação de Umbanda e Candomblé do Estado de São Paulo

2015

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