HISTORIA
O marco inicial surge com a escravatura do índio feita pelos primeiros colonizadores no Brasil. O sincretismo religioso no Brasil, ou seja, a mistura de concepções, fundamentos, preceitos, ritualísticas e divindades se processaram num quádruplo aspecto: negro, índio, católico e espírita porque outros foram menos dominantes ou de modo superficial e restrito a certas áreas.
Entretanto, o aborígene pelas suas características de raça, de elemento da terra, conhecedor das matas, espírito guerreiro exaltado, sem qualquer organização com um rudimento de estrutura social, tendo a liberdade como apanágio de toda sua vida, não aceitou o jugo da escravidão. Tinha, contudo, uma crença no espírito e suas religiões. A influência do índio contribuiu para a formação da Umbanda fornecendo elementos da sua mitologia e cultivos, tais qual a pajelança, o toré, o catimbó, entre outros. Ademais, o caboclo, ancestral do índio que incorporava em suas manifestações, foi consolidado na prática umbandista.
O colonizador, portanto, foi buscar nas terras africanas o elemento negro, o qual oferecia condições mais favoráveis para os misteres da lavoura, já conhecidos nas regiões de origem. Desse modo, houve um circuito branco-índio-negro que contribuiu sobremaneira para o complexo da formação brasileira, nele ressalvando, como uma constante a religiosidade em vários aspectos.
A Umbanda é, portanto, o resultado da evolução de um múltiplo sincretismo religioso existente no Brasil, no qual influíram motivações diversas, inclusive de ordem social, originando um culto à moda e feição brasileira em aspecto de síntese.
Na época das senzalas, os negros escravos costumavam incorporar o que se conhece hoje como preto-velhos, antigos escravos, que ao se manifestarem, compartilhavam conselhos e consolo aos escravos.
O sincretismo católico, produto da simbiose dos cultos de escravo e escravocratas no Brasil, chegou a tal ponto que se cultiva um orixá com nome e imagem do santo católico, não se podendo diferenciar em certas exteriorizações onde começa um onde termina o outro. São flagrantes os casos de São Jorge (Ogum), Nosso Senhor do Bonfim (Oxalá), São Cosme e São Damião (Ibeji) e Santa Bárbara (Iansã). Não raro, muitos chefes de terreiro mandam rezar missas e se declaram também católicos, além da existência de praticantes que frequentam as duas religiões. Houve, portanto, uma consolidação do santo católico, admitido já sob o aspecto de espírito superior, de guia-chefe ou como orixá, enquanto os candomblés procuraram mais se distanciar do sincretismo a não aceitar as imagens.
O primeiro relato histórico, segundo Cavalcanti Bandeira, cabe a Nina Rodrigues, falecido em 1906, quando já estava quase pronta a impressão do seu livro Os africanos no Brasil, referente aos estudos feitos entre 1890 e 1905, no qual consta a descrição de um ritual praticado na Bahia, o mais semelhante da Umbanda atual, que é o seguinte: Entre os casos que poderíamos citar, tomamos por sua importância à pastoral de um Prelado Brasileiro ilustre a descrição eloquentíssima do Cabula, por ele estudada, que mais não é do que uma instituição religiosa africana sob vestes católicas.
Diz d. João Corrêa Nery:
A Cabula: Houve alguém
que disse ser grande e mais prejudicial do que pensamos, a influência exercida pelos africanos sobre os brasileiros. Parece mesmo que muito se tem escrito nesse sentido. Em certa região de nossa Diocese, tivemos, em nossa última excursão, oportunidade de observar a verdade desse acerto. Encontramos três freguesias largamente minadas por uma seita misteriosa que nos parece de origem africana. Nossa desconfiança mais se acentuou, quando nos asseveraram que antes da libertação dos escravos, tais cerimônias só se praticavam entre os pretos e mui reservadamente.
Depois da lei de 13 de maio, porém, generalizou-se a seita, tendo chegado, entre as freguesias, a haver para mais de 8.000 pessoas iniciadas. Bem que agora esteja privada dos elementos mais importantes, que infelizmente possuiu outrora, ainda encontramos crescido número de adeptos. O tom misterioso e tímido com que nos falavam a seu respeito e a notícia da grande quantidade de iniciados ainda existentes, nos levaram, não só a procurar do púlpito invectivar essa tremenda anomalia, como também a tomar algumas notas que oferecemos à consideração e ao estudo dos curiosos. Graças a Deus nosso trabalho não foi inútil. Tivemos a “consolação” de ver centenas de cabulistas abandonarem os campos inimigos e voltarem novamente a N. S. Jesus Cristo, ao mesmo que tempo que, de muito bom grado, nos forneciam informações sobre a natureza, fins, etc… da associação que pertenciam. A nosso ver a Cabula é semelhante ao Espiritismo e à Maçonaria, reduzidos a proporções para a capacidade africana e outras do mesmo grau. Em vez de sessão, a reunião dos cabulistas tem o nome de mesa. O chefe de mesa é chamado de embanda e é secundado nos trabalhos por outros chamados cambones.
União Espiritista de Umbanda do Brasil, a Casa Mater de Umbanda.
Pensa-se que a expressão “embanda” possa ser uma corruptela do termo Umbanda ou Quimbanda, mas de qualquer modo demonstra a antiguidade do ritual na Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro, já no século XIX, onde teve a linha mestra de uma de suas origens sob certos aspectos.
Na descrição do ritual cabulista é identificado o bater das palmas, as vestes brancas, a disposição das velas em sentido cabalístico como nos riscados, a engira, hoje gira, o modo de aceitar um novo membro do corpo de médiuns da casa, em alguns a iniciação dos profitentes do culto, a chegada do santé que é o santo como hoje se diz a marcação de pontos, além do cambone, o chamado assistente cambono.
Uma referência com outra data precisa se encontra no livro Religiões Negras, de Edison Carneiro, 1963, em que surge à tona o nome Umbanda ao referir: “nos candomblés de caboclo, consegui registrar as impressões umbanda e embanda, sacerdote do radical mbanda: Ké ké mim ké umbanda. Todo mundo mim ké Umbanda.”
De acordo com Cavalcanti Bandeira, Edison Carneiro, em 1933, teria estado na Bahia para fazer essa verificação. Assim, teve a primazia de fixar num livro brasileiro a palavra Umbanda, sem qualquer alteração, com essa grafia, em relação a um fato no culto que estudou naquele estado.
Pode ser fixado o ano de 1905 para a Guanabara, como marco, quando João do Rio publicou as suas reportagens enfeixadas depois no livro Religiões do Rio, onde aprecia e relata todos os cultos, seitas e religiões existentes na época e por ele vistos, não se referindo ao nome Umbanda que, embora conhecido e usado nesse período ao que parece, não tinha galgado a evidência e nem definia um culto de largas proporções. Entretanto, sua prática no Rio de Janeiro remonta ao tempo do Império, quando na Serra dos Pretos Forros, no Lins de Vasconcelos, atual Estrada Grajaú-Jacarepaguá, pontificavam diversas casas de culto, cada uma dentro de uma linha tradicional africanista. Já no tempo da República se achavam espalhadas pelos diversos bairros, porém com a característica afro-brasileira bem nítida.
Sobressaíam-se os rituais de Angola, do Congo, de Guiné, Moçambique, Cabinda, Monjolo, Cassange, de Rebolo, Cabula, Muçurumi, como a Linha das Almas, Linha do Mar, Linha de Mina, e as chamadas Linhas Cruzadas, bem como a de Nagô.
Começou a fusão praticamente, depois da Luta dos Ogãs, na década de 1910 a 1920, pois os baianos que até então não se entrosavam nas cultuações, seguindo a tradição nagô dos candomblés (as macumbas como eram chamadas), foram aos poucos convivendo no conjunto religioso.
Embora predominasse o culto de Angola, tinha uma apresentação distanciada da rigidez do misticismo baiano, como o Muçurumi do Rio de Janeiro, e os terreiros eram mais conhecidos como bandas ou pelo nome das entidades, ou dos seus dirigentes. Assim, muitos já haviam surgido no Morro do Castelo, de Santo Antonio, na Mangueira e de São Carlos, entre outros.
No conjunto de cultos bantos, no Rio de Janeiro, o nome Umbanda foi mais preponderante no decênio de 1920 a 1930, concorrendo para isso uma aglutinação pelos recessos motivados pelas perseguições havidas dos governos, pois, nessa época apenas se favorecia ao kardecismo. Mesmo assim, muitos centros foram surgindo, como por exemplo, a Tenda Espírita Mirim, fundada a 13 de outubro de 1924, praticando o ritual de Umbanda, sendo o nome comum de Tenda Espírita, que usavam os centros praticantes desse ritual. Na época não havia liberdade religiosa. Todas as religiões que apontavam semelhanças com rituais africanos eram perseguidas, os terreiros destruídos e os praticantes presos. Entre os inúmeros episódios desse tipo, destacau-se, por exemplo, o da chamada Quebra de Xangô, em Maceió, no estado de Alagoas, a 2 de fevereiro de 1912.[1] Em uma ação organizada pela Liga dos Republicanos Combatentes, os mais importantes terreiros de Xangô foram destruídos na capital alagoana, tendo pais de santo e religiosos sido espancados e imagens de culto destruídas. A ação teve como um de seus líderes o ex-governadorFernandes Lima, e visou atingir o então governador Euclides Malta, conhecido por sua amizade com líderes de religiões afro-brasileiras.
Sales, citando Arthur Ramos, diz que o autor chama esse novo produto,a Umbanda, de jeje-nagô-mussulmi-banto-caboclo-espírita-católico.[2]Para Prandi[3] e Oliveira[4], a Umbanda deriva da macumba carioca, e surge a partir da inserção de kardecistas insatisfeitos com a ortodoxia que não permitia a manifestação de caboclos e preto-velhos por serem considerados “espíritos atrasados”. Ambos os autores a reconhecem como religião brasileira, surgida nas primeiras décadas do séc. XX, um período de urbanização e industrialização, o que segundo os mesmos, propiciou e contribuiu para sua formação.
No período de 1930 a 1940 a situação das tendas e terreiros melhorou bastante através da liberdade consentida e depois assegurada por lei, em 1934. Também data desse ano o início do Cadastro Policial, quando eram tiradas as licenças para as chamadas Festas Africanas, na então 4º Delegacia Auxiliar, que também exigia licença para os incipientes Terreiros de Umbanda.
Diamantino Fernandes Trindade relata em seu livro Umbanda e sua História que o início da expansão do Movimento Umbandista coincide com a subida ao poder de Getúlio Vargas, em1930. Seu regime, de caráter autoritário, se solidificaria, em 1937, com a criação do chamado Estado Novo.
As primeiras lideranças da Umbanda foram, direta ou indiretamente, ligadas ao regime. Alguns terreiros exibiam em suas paredes fotos do ditador. Apesar do apoio ao governo, os praticantes ainda sofreram perseguições e repressões que durariam até 1945. Uma lei de 1934 enquadrava a Umbanda, o Kardecismo, as Religiões Afro-Brasileiras, a Maçonaria, entre outras, na seção especial de Costumes e Diversões do Departamento de Tóxicos e Mistificações do Rio de Janeiro. Trata-se do mesmo departamento que lidava com álcool, drogas, jogo e prostituição. A lei vigorou até 1964. Os cultos eram vítimas da extorsão em troca de proteção da polícia, prática atualmente comum nos jogos de azar. Quando contrariada, a autoridade se resguardava na justificativa de que a macumba dava cobertura a tipos considerados comunistas. De acordo com relatos da época, Ogum, o orixá sincretizado com São Jorge, era identificado na década de 1930, como sendo o Cavaleiro Vermelho. Há relatos de que a perseguição do governo Washington Luís (1926 a 1930) foi bastante intensa do que no governo seguinte de Vargas, pois este último teria sido um frequentador assíduo dos cultos afro-brasileiros.
Pai Jaú, falecido em 1989, ex-atleta de futebol do Corinthians, declarou certa feita numa reunião do Superior Órgão de Umbanda do Estado de São Paulo (SOUESP), que várias vezes havia sido preso e sua libertação ocorrera por ordem direta de Vargas com quem mantinha relações cordiais.
Muitos terreiros surgiram do kardecismo ou foram fundados por espíritas que recebiam caboclos e preto-velhos, especialmente foi marcante a influência da Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, a qual funcionava no bairro de Neves, em São Gonçalo, fundada a 16 de novembro de 1908, seguindo inicialmente o Espiritismo.
Em 1908, o médium Zélio Fernandino de Moraes, sob a influência do Caboclo das Sete Encruzilhadas,[5]recebeu a incumbência de fundar sete centros, os quais foram instalados na cidade do Rio de Janeiro, entre 1930 a 1937, com os nomes de Tenda Espírita. Ressalta-se que tenda, na época, eram as casas que funcionavam em sobrados, comuns na cidade, enquanto o termo terreiro era aplicado aos centros que funcionavam no mesmo plano da rua.
As sete tendas e seus responsáveis:
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Tenda Espírita São Pedro – com José Meireles, em um sobrado da Praça XV de Novembro, Centro.
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Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia – com Durval de Souza, na Rua Camerino, 59, Centro.
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Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição – com Leal de Souza, sem sede fixa.
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Tenda Espírita São Jerônimo – com José Álvares Pessoa (Capitão Pessoa), na Rua Visconde de Itaboraí, 8, Centro.
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Tenda Espírita São Jorge – com João Severino Ramos, na Rua Dom Gerardo, 45, Praça Mauá.
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Tenda Espírita Santa Bárbara – com João Aguiar, sem sede fixa.
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Tenda Espírita Oxalá – com Paulo Lavois, na atual Av. Presidente Vargas, 2567, Centro.
Posteriormente a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade passou a funcionar na cidade do Rio de Janeiro, na Praça Duque de Caxias, 231, e em 1960, na Rua Dom Gerardo, 51. Atualmente se localiza na Cabana do Pai Antonio, em Boca do Mato, distrito de Cachoeiras de Macacu sob a direção da neta de Zélio, Lygia de Moraes Cunha. Das sete tendas, apenas duas se encontram em funcionamento até 2012. A Tenda Espírita São Jorge está sediada à Rua Senador Nabuco, 122, em Vila Isabel com sessões às segundas-feiras. Já a Tenda Espírita Oxalá se localiza a Rua Ambiré Cavalcanti, 298, no bairro Rio Comprido.
No período ainda surgiram vários centros como a Tenda Espírita Nossa Senhora do Rosário, Cabana Espírita Senhor do Bonfim, ainda em funcionamento no bairro de Todos os Santos, Tenda Espírita Fé e Humildade, Cabana Pai Joaquim de Luanda, Tenda Espírita Humildade e Caridade, Cabana Pai Tomé do Senhor do Bonfim, Centro Espírita Religioso São João Batista, Tenda Africana São Sebastião, Centro Espírita Caminheiros da Verdade e muitos outros, desde a Praça Onze e Rio Comprido até os subúrbios mais distantes, especialmente nos municípios limítrofes do Rio de Janeiro.
A 26 de agosto de 1939 foi fundada a Federação Espírita de Umbanda que, em 1941, promoveu o Primeiro Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda. No encontro foi proposta a desafricanização da Umbanda com o intuito de fuga da repressão policial. [6] Em 1947, seu nome foi alterado para União Espiritista de Umbanda do Brasil. Foi à primeira entidade federativa do país a congregar os centros já existentes. A União funciona atualmente à Rua Conselheiro Agostinho, 52, em Todos os Santos.
O objetivo principal na época era o de reunir as diversas tendas, a partir das sete primeiras, para uniformizar o culto umbandista, estabelecer o uso do branco no vestuário, homogeneizar as diversas classes participantes e as práticas ritualísticas de maneira simplificada dentro das diretrizes doutrinárias preconizadas nas bases estabelecidas, ao se criar estatutos e ordenamentos legais para evitar as terríveis perseguições ao culto.
Se filiaram, entre outras, a Tenda Espírita Beneficente Santa Luzia, através do irmão Frederico, a Cabana Espírita Senhor do Bonfim, por Manuel Floriano da Fonseca, a Cabana de Pai Joaquim de Luanda, por Márcia Justino, além da Tenda Mirim, fundada em 1924, pelo médium do Caboclo Mirim, Benjamin Gonçalves Figueiredo. A histórica casa deixou inúmeras filiais, além do Primado de Umbanda, compondo uma doutrinação disciplinar e hierárquica bastante contundente. Já a Casa Espírita Caminheiros da Verdade, criada a 4 de março de 1932, e dirigida pelo Comendador João Carneiro de Almeida, se notabilizou como uma das mais influentes no estado. Está situada à Rua Comendador João Carneiro de Almeida, 133, Engenho de Dentro, sob a liderança de Tarcizo Antonio Carneiro de Almeida.
Foram criadas diversas tendas umbandistas, no dimensionamento doutrinário da Linha Branca, sob a orientação do Caboclo das Sete Encruzilhadas também em São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Pará, Alagoas e Bahia. Não raro, Zélio de Moraes se fazia presente, ou enviava representantes à organização e direção das novas tendas umbandistas. No território brasileiro existem muitos templos que foram fundados direta ou indiretamente pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, incluindo outros que descendem dos originais.
Em 1947, surgiu o Jornal de Umbanda, que durante mais de duas décadas, foi o porta-voz doutrinário do culto umbandista, tendo como colaboradores Cavalcanti Bandeira, Olívio Novaes, J. Alves de Oliveira, Pedro Miranda, W. W. da Matta e Silva, entre outros.
Em 1945, José Álvares Pessoa, conhecido como Capitão Pessoa, dirigente da Tenda Espírita São Jerônimo, obteve junto ao Congresso Nacional a legalização da prática da Umbanda.
ORIGEM
A Umbanda tem origens variadas (dependendo da vertente que a pratica).
Em meio às festas nas senzalas os negros escravos reverenciavam os Orixás por intermédio do sincretismo com os Santos Católicos. Nessas festas eles incorporavam seus Orixás, mas também começaram a incorporar os espíritos ditos ancestrais, como os Pretos-Velhos ou Pais-Velhos (reconhecidos como espíritos de ancestrais, sejam de antigos Babalaôs, Babalorixás, Yalorixás e antigos “Pais e Mães de senzala”: escravos mais velhos que sobreviveram à senzala e que, em vida, eram conselheiros e sabiam as antigas artes da religião da distante África), que iniciaram a ajuda espiritual e o alívio do sofrimento material daqueles que estavam no cativeiro.
Embora houvesse certa resistência por parte de alguns, pois consideravam os espíritos incorporados dos Preto-Velhos, como Eguns (espírito de pessoas que já morreram e não são cultuados no candomblé), também houve admiração e devoção.
Com os escravos foragidos, forros e libertados pelas leis do Ventre Livre, Sexagenário e posteriormente a Lei Áurea, começou-se a montagem das tendas, posteriormente terreiros.
Em alguns Candomblés também começaram a incorporar Caboclo (índios das terras brasileiras como Pajés e Caciques) que foram elevados à categoria de ancestrais e passaram a ser louvados. O exemplo disso são os ditosCandomblé de Caboclo. Muito comuns no norte e nordeste do Brasil até hoje.
No início do século XX com o surgimento da Umbanda, esta que muitas vezes era realizada nas praias começou a ser conhecida pelo termo macumba, pois macumba nada mais é que um determinado tipo de reco-reco usado durante as giras; por ser um instrumento musical, as pessoas referiam-se da seguinte forma: “Estão batendo a macumba na praia”, ficando então conhecidas as giras como macumbas ou culto Omolokô. Com o passar do tempo, tudo que envolvia algo que não se enquadrava nos ensinamentos impostos pelo catolicismo, protestantismo, e outras religiões, era considerado macumba. Com isso, acabou por virar um termo pejorativo.
Visões sobre o vocábulo “Umbanda”
Referência Histórico-Literária
A mais antiga referência literária e denotativa ao termo Umbanda é de Heli Chaterlain, em Contos Populares de Angola, de 1889. Lá aparece a referência à palavra Umbanda, como: curador, magia que cura, sinônimo de Kimbanda.
Visão Esotérica sobre o vocábulo Umbanda
Segundo a corrente esotérica que existe na Umbanda, a origem do vocábulo Umbanda estaria na raiz sânscrita AUM que, na definição de Helena Petrovna Blavatsky, em seu Glossário Teosófico, significa a sílaba sagrada; a unidade de três letras; daí a trindade em um. É uma sílaba composta pelas letras A, U e M (das quais as duas primeiras combinam-se para formar a vogal composta O). É a sílaba mística, emblema da divindade, ou seja, a Trindade na Unidade (sendo que o A representa o nome de Vishnu; U, o nome de Shiva, e M, o de Brahmâ); é o mistério dos mistérios; o nome místico da divindade, a palavra mais sagrada de todas na Índia, a expressão laudatória ou glorificadora com que começam os Vedas e todos os livros sagrados ou místicos.
As outras palavras componentes se supõem, como: Bandha, de origem sânscrita, no mesmo glossário significa laço, ligadura, sujeição, escravidão. A vida nesta terra.
Autores dessa corrente esotérica, analisando as duas palavras, definiram Umbanda como sendo a junção dos termos Aum + Bandha, que seria o elo de ligação entre os planos divino e terreno. A palavra mântrica Aumbandha foi sendo passada de boca a ouvido e chega até nós como Umbanda.
Formas variadas da Umbanda
A incorporação de guias também ocorreu em outras religiões como no Candomblé de Caboclos (desde 1865 – as primeiras manifestações de Caboclos, Boiadeiros, Marinheiros, Crianças e Preto-velhos aconteceram dentro do Candomblé de Caboclos), no Catimbó e em centros Espíritas (onde não eram aceitos e, muitas vezes, expulsos ou pedidos a se retirar, por serem vistos como espíritos não evoluídos, ou mesmo, como obsessores).
Uma das versões mais aceitas popularmente, mas não cientificamente, pois não existe documentação da época para corroborá-la, é a sobre o médium Zélio Fernandino de Moraes.
Diz essa versão que Zélio, em 15 de novembro de 1908, acometido de doença misteriosa teria sido levado a Federação Espírita de Niterói e, em determinado momento dos trabalhos da sessão Espírita manifestaram-se em Zélio espíritos que diziam ser de índio e escravo. O dirigente da Mesa pediu que se retirassem, por acreditar que não passavam de espíritos atrasados (sem doutrina). Mais tarde, naquela noite, os espíritos se nomearam como Caboclo das Sete Encruzilhadas e Pai Paulo.
Devido a hostilidade e a forma como foram tratados (como espíritos atrasados por se manifestarem como índio e um negro escravo). Essas entidades resolveram iniciar uma nova forma de culto, em que qualquer espírito pudesse trabalhar.
No dia seguinte, dia 16 de novembro, as entidades começaram a atender na residência de Zélio todos àqueles que necessitavam, e, posteriormente, fundaram a Tenda espírita Nossa Senhora da Piedade.
Essa nova forma de religião inicialmente foi chamada de Alabanda, mas acabou tomando o nome de Umbanda. Uma religião sem preconceitos que acolheria a todos que a procurassem: encarnados e desencarnados, em todas as bandas.
Zélio foi o precursor de um “trabalho Umbandista Básico” (voltado à caridade assistencial, sem cobrança e sem fazer o mal e priorizando o bem), uma forma “básica de culto” (muito simples), mas aberta à junção das formas já existentes (ao próprio Candomblé nos cultos Nagôs e Bantos, que deram origem às religiões mais africanas – Umbanda Omolokô, Umbanda de pretos-velhos; ou aquelas formas mais vinculadas à Doutrina Espírita – Umbanda Branca; ou aquelas formas oriundas da Pajelança do índio brasileiro – Umbanda de Caboclo; ou mesmo formas mescladas com o esoterismo de Papus – Gérard Anaclet Vincent Encausse, esoterismo teosófico de Helena Petrovna Blavatsky(1831-1891), de Joseph Alexandre Saint-Yves d´Alveydre – Umbanda Esotérica, Umbanda Iniciática, entre outras) que foram se mesclando e originando diversas correntes ou ramificações da Umbanda com suas próprias doutrinas, ritos, preceitos, cultura e características próprias dentro ou inerentes à prática de seus fundamentos.
Hoje temos várias religiões com o nome “Umbanda” (Linhas Doutrinárias) que guardam raízes muito fortes das bases iniciais, e outras, que se absorveram características de outras religiões, mas que mantém a mesma essência nos objetivos de prestar a caridade, com humildade, respeito e fé.
Alguns exemplos dessas ramificações são:
· Umbanda tradicional – Oriunda de Zélio Fernandino de Moraes;
· Umbanda Branca e/ou de Mesa – Nesse tipo de Umbanda, em grande parte, não encontramos elementos Africanos – Orixás -, nem o trabalho dos Exus e Pombas-gira, ou a utilização de elementos como atabaques, fumo, imagens e bebidas. Essa linha doutrinária se prende mais ao trabalho de guias como caboclos preto-velhos e crianças. Também podemos encontrar a utilização de livros espíritas como fonte doutrinária;
· Omolokô – Trazida da África pelo Tatá Tancredo da Silva Pinto. Onde encontramos um misto entre o culto dos Orixás e o trabalho direcionado dos Guias;
· Umbanda Traçada ou Umbandomblé – Onde existe uma diferenciação entre Umbanda e Candomblé, mas o mesmo sacerdote ora vira para a Umbanda, ora vira para o candomblé em sessões diferenciadas. Não é feito tudo ao mesmo tempo. As sessões são feitas em dias e horários diferentes;
· Umbanda Esotérica – É diferenciada entre alguns segmentos oriundos de Oliveira Magno, Emanuel Zespo e o W. W. da Matta (Mestre Yapacany), em que intitulam a Umbanda como a Aumbhandan: “conjunto de leis divinas”;
· Umbanda Iniciática – É derivada da Umbanda Esotérica e foi fundamentada pelo Mestre Rivas Neto (Escola de Síntese conduzida por Yamunisiddha Arhapiagha), onde há a busca de uma convergência doutrinária (sete ritos), e o alcance do Ombhandhum, o Ponto de Convergência e Síntese. Existe uma grande influência Oriental, principalmente em termos de mantras indianos e utilização do sânscrito;
Origem: WikiPedia .